Não dá para fazer História do Brasil Imperial sem atentar para a província de Minas Gerais, cuja importância política no Império por vezes é até relegada. Menos ainda sem entender o lugar das assembleias, dos poderes locais e intermediários em suas articulações e malhas com outras instâncias do Estado imperial e espaços políticos. Essa atenção com o cenário mais amplo em vários níveis descola este trabalho da chamada “história regional”, um rótulo muitas vezes inadequado, mas bastante comum no neo-colonialismo internalizado de parte de uma historiografia tradicional mais antiga. O livro de Kelly Eleutério Machado Oliveira levanta muitas questões possíveis, sempre guiando o leitor pelos capítulos, buscando uma abordagem que vincula a História social com a História Política, em que participam da cena atores com os mais diversos e distintas motivações, ritmos de atuação e poderes relativos, resultando em uma relevante contribuição para a historiografia, particularmente para o entendimento do Regresso de 1837 e suas consequências no arcabouço institucional do Império do Brasil, do movimento de 1842 e, principalmente, do lugar das Assembleias Provinciais no jogo do poder mais amplo. Chamo particular atenção para o último capítulo, quando a autora estuda o tráfico e a escravidão. No cuidado textual, na metodologia e na pesquisa primária, percebe-se também um pouco da orientadora, a professora Andréa Lisly Gonçalves, historiadora renomada de vasta experiência e atuação do estudo do Brasil imperial, principalmente de sua História Social e Política. Não é, portanto, um trabalho ensimesmado, parafraseando o magnífico escritor mineiro, desses que mesmo que bem feitos não trazem desdobramento e possibilidades de novos questionamentos. Segue assim um caminho aberto pela historiografia recente que explora o movimento contínuo da dialética entre a unidade e a dispersão do Império do Brasil. Convido assim o leitor a ler este trabalho, fazendo anotações e rabiscando suas páginas, como se deve fazer com um estudo de qualidade, que merece ser vítima desses abusos dos seus leitores historiadores, na certeza de que a Pós-Graduação brasileira cumpriu mais uma vez a sua missão de entregar ao país, ao contribuinte que a financia, uma historiadora pronta para todas as aventuras do conhecimento que lhe esperam.