É quase lugar comum dizer o quanto o pensamento de Sándor Ferenczi é atual quando, há quase 100 anos atrás, já era considerado um psicanalista ‘original’. Não à toa, era chamado para dar conta dos ‘casos difíceis’, casos que se apresentavam como um desafio à psicanálise. Felicia Knobloch, como Ferenczi, foi tocada pelo sofrimento de seus analisandos, o que a levou a acompanhar a trama teórica e clínica deste psicanalista, problematizando cada conceito, mas tendo presente, a todo momento, segundo suas próprias palavras, que “cada analista tem sua teoria e, quem sabe, uma teoria para cada analisando”. Esta tarefa teve como efeito, abrir “novas possibilidades da prática terapêutica”, seu interesse maior. A autora coloca em questão tal afirmação, assim como seus fundamentos metapsicológicos, numa obra que, por sua clareza e pela pertinência de suas interrogações, pela fineza na discriminação das minúcias, pelo rigor na apresentação e acompanhamento dos conceitos, pela força das imagens produzidas em sua escrita, será certamente muito enriquecedora para os leitores. Não estamos diante de um texto que pretende responder ao desafio que os ‘casos difíceis’ nos impõem. Afinal hoje já sabemos bastante sobre o que está para além do princípio do prazer. Felicia Knobloch nos lança em um universo no qual, mais que buscar entender seus casos difíceis, ela se rendeu ao sentir. E faz isso de um modo elegante, por mais árduo que o trabalho possa se mostrar. Esta forma de abordar a questão do traumático é de uma delicadeza ímpar: sem propor soluções, ela nos convida a pensar com afeto a nossa própria clínica, ao mesmo tempo que nos instiga com suas próprias indagações. Trata-se, neste sentido, de uma postura eminentemente ética. É isso que nos faz querer ler e reler O tempo do traumático. Porque sentir está para além do entender.