Com discurso claro e contundente, mas ao mesmo tempo semposse de verdades inapeláveis ou axiomáticas, o livro que temem mãos trata com rigor e profundidade questões cruciais sobre aproblemática do trauma tanto na sua complexidade teórica comono desafio que representa o trabalho com ele.A partir de um triplo cenário: dos campos de concentração, das conjunturas políticas que assolaram com ares devastadores os países de nosso continente e dos consultórios, Mariana Wikinski debruça-se ao extremo neste campo escabroso de retóricas imprecisas, para levantar e explicitar no limite questões ineludíveis à temática do trauma: o encargo de uma ética frente ao sofrimento do outro; a discutível relação com a verdade, a precisa e essencial discriminação entre verdade jurídica, histórica e subjetiva; questões em torno do conceito de vítima e do dizível e indizível da experiência traumática. Aborda, também e, essencialmente, os obstáculos na construção do testemunho: a possibilidade ou não de narração do traumático, a declaração frente à justiça, a vergonha e o falar pelo outro.Este livro é um valioso instrumento no trabalho com vivências traumáticas e enquadres analíticos, enquanto fazemos parte de contextos testemunhais: seja quando o sujeito oferta o testemunho da própria vida (superstes), seja quando, como psicanalistas, somos colocados no lugar de testemunha de uma história que poderá ser recuperada, reconhecida, aceita ou fatalmente desmentida; ou seja, quando alguém testemunha por outro (testis) para que, no digno propósito, como escreve Wikinski, citando Derrida, “a morte não diga a última palavra”.Myriam Uchitel