O Último Negreiro, romance sobre o tema da escravatura, narra a vida do negreiro português Francisco Félix de Sousa entre São Salvador da Bahia, terra de acolhimento dos barcos tumbeiros carregados de escravos, e Ajudá, no Daomé (hoje Benim), feitoria central de exportação de escravos do Golfo da Guiné. Em São Salvador, nos finais do século XVIII, Francisco Félix de Sousa convive com o banqueiro Marinhas, financiador do tráfico de escravos, os judeus Simão e Samuel Dias (filhos de Violante Dias, de A Voz da Terra), D. Francisquinha, viúva carinhosa apaixonada por Félix de Sousa, o povo miúdo mulato autor da «revolta dos Alfaiates», primeira insurreição brasileira que exige a abolição da escravatura e a libertação do domínio português, o soldado Luiz Gonzaga das Virgens, enforcado e esquartejado na Praça da Piedade, o comerciante iluminista Francisco Agostinho Gomes, proprietário da maior biblioteca da Bahia, obreiro de jantares de carne vermelha à sexta-feira santa, o dr. Baratinha, futuro deputado às Cortes Constituintes e herói da libertação do Brasil, o professor de Grego e Latim Moniz Barreto e Aragão, eterno solitário amante de Cícero, gatos e cachaça, e o tenente insurrecto Hermógenes Pantoja, de casamento realizado à rebeldia da Igreja. Em São João Baptista de Ajudá, Francisco Félix de Sousa, conhecido com o título nobre de «Chàchá», torna-se o maior dos traficantes negreiros da primeira metade do século XIX, construindo um império tão mais magnificente quanto mais rapidamente se desmorona acossado pelas frotas navais da Inglaterra, país que decretara a abolição da escravatura em 1807. Do seu legado, dividido entre os três filhos mais importantes (os naturais contam- -se em cerca de uma centena), nasceu o clã dos «Sousa» (ou «Susa»), ainda hoje existente no Benim, imortalizado pela obra-prima de Bruce Chatwin, O Vice-Rei de Ajudá.