Neste livro de memórias que pode ser lido como um thriller jornalístico, Natalia Viana, uma das vozes mais importantes do jornalismo brasileiro, conta sua experiência junto à equipe do WikiLeaks nos anos de 2010 e 2011, quando o grupo realizou o Cablegate, maior vazamento de documentos classificados de todos os tempos. Única brasileira no QG de Julian Assange em Ellingham Hall, Viana era uma repórter independente prestes a se mudar para a Amazônia, quando recebeu uma ligação misteriosa que a levou até o interior da Inglaterra. Lá ela se tornou a responsável por elaborar e coordenar a divulgação em primeira mão dos telegramas das embaixadas estadunidenses relativos ao Brasil.
Durante os dias intensos que antecederam o vazamento, um esforço coordenado entre publicações de calibre mundial foi realizado para dar o cobiçado furo. Ao lado de The New York Times, The Guardian, Le Monde, El País e Der Spiegel, estavam os jornais brasileiros Folha de S.Paulo e O Globo, graças a um delicado e custoso trabalho de articulação feito por Viana.
Desde a incerteza e a solidão dos primeiros dias pré-vazamento até uma longa viagem pelo Caribe para articular a segunda fase do projeto, acompanhamos vidrados o empenho de Viana em fazer um jornalismo realmente revolucionário. Com a propriedade de quem esteve no olho do furacão, ela reconstitui com vivacidade um momento de efervescência política e otimismo incendiário, quando a internet parecia abrir novas possibilidades na luta por um mundo melhor.
Mais de uma década depois do Cablegate e de outras formas de revolta como a Primavera Árabe, o Occupy Wall Street e as Jornadas de Junho, Viana faz deste relato íntimo e pungente um acerto de contas, que suscita a reflexão sobre o papel do jornalismo, a dificuldade de se lutar contra poderes hegemônicos — seja o machismo da imprensa tradicional ou o imperialismo americano — e como a revolução da internet veio desaguar no mundo em que vivemos hoje. Os desdobramentos da trajetória e a consequente perseguição política a Julian Assange assombram o desfecho da narrativa que, apesar de ainda estar em curso, já é trágica e violadora dos direitos humanos.
Acima de tudo, O vazamento oferece uma nova chave de leitura de um momento de virada na história, as revoltas do início dos anos 2010, apresentada por uma profissional que esteve no front de sua transformação.