Em 2015 estudantes secundaristas ocuparam diversas escolas em São Paulo em protesto contra um plano do governo que iria fechar quase cem unidades de ensino. No ano seguinte, as ocupações, na casa das centenas, passaram a ocorrer em outros estados, combatendo a precarização do ensino público, a ser agravada pela PEC do teto dos gastos públicos e pela MP da reforma do ensino médio. Nesses movimentos em defesa da educação de qualidade, de abrangência nacional, alunos de escolas públicas, com idades entre 15 e 18 anos em média, enfrentaram uma série de adversidades: foram chamados de “baderneiros” que estavam “invadindo” e depredando as escolas, e foram acusados de serem massa de manobra de partidos políticos. No entanto, com coragem e organização surpreendentes, os secundaristas responderam a estes ataques com uma estratégia original: recusaram a subordinação a partidos, estabelecendo uma forma horizontal de tomada de decisões, sem líderes, e passaram a administrar o espaço escolar de maneira exemplar, formando comissões de limpeza, cozinha, segurança, além de promover uma série de atividades culturais nas ocupações, como aulões, shows e debates.
A presente coletânea, organizada por integrantes do Núcleo Direito e Democracia do CEBRAP, trazendo contribuições de pesquisadores de diversas áreas, procura analisar como se deram as ocupações em São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro, Ceará, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Espírito Santo, e como a mobilização dos secundaristas se tornou um dos movimentos sociais mais interessantes da atualidade — transformador tanto para os próprios alunos, ao participarem, pelo menos momentaneamente, da gestão de suas escolas, quanto para a sociedade brasileira, ao inspirar novas formas de fazer política.