“Para captar a importância desse escrito, destaco quatro aspectos. Em primeiro lugar, a figura teológica e dogmática de Cristo deve estar totalmente em consonância com a figura de Cristo celebrada na liturgia. Assim, uma cristologia espiritual deve ser aquela em que não haja fratura entre a reflexão teológica mais especulativa e a celebração litúrgica mais orante. A adoração e o pensamento são direcionados ao único Cristo na fé da Igreja. Isso impõe, em segundo lugar, uma metodologia própria da cristologia. Ratzinger estabelece a oração de Jesus como o ponto arquimediano da cristologia. [...] Ao entrar na oração de Jesus, que ele transmitiu aos discípulos e que aparece nos evangelhos, a pessoa participa do mistério mais íntimo do Filho e de sua comunhão com o Pai. [...] Assim, em terceiro lugar, não pode haver separação entre o dogma, a confissão plena de Jesus como Filho e, portanto, da própria substância do Pai (Concílios de Niceia e Calcedônia), e a figura de Jesus transmitida a nós nos Evangelhos: o Filho em comunhão de oração com o Pai, que em todas as coisas cumpre sua vontade. Em quarto lugar, isso logicamente exige uma metodologia de leitura das Escrituras na qual seja possível compreender tanto a oração de Jesus quanto a profundidade teológica de sua figura e seu mistério de filiação. [...] Portanto, à verificação histórica, à exegese histórico-crítica, devemos acrescentar uma hermenêutica propriamente teológica ou hermenêutica da fé, que nos permita compreender o profundo mistério de Jesus Cristo: sua filiação. Assim, temos acesso ao verdadeiro Jesus: o Filho Unigênito de Deus”.
Pe. Dr. Gabino Uríbarri Bilbao, SJ