Em Olhares, Cores e Sabores as histórias e as receitas nos ensinam a viajar para além dos roteiros turísticos ou mesmo traçados em mapas. Fato é que Judith Coelho de Carvalho, nascida e crescida na principal cidade representante do barroco mineiro – Ouro Preto/MG, patrimônio cultural da humanidade –, andou e, por onde andou, manteve os sentidos a posto, por vezes silenciosamente, por outras na quietude tão própria de sua mineirice que bota reparo em um tudo, que perscruta os muitos mundos internos e externos, quer saber quem lá habita, do que é feito e suas vicissitudes. Ao longo de anos de idas e vindas, não foram poucas as experiências que se somaram. O contato com diferentes gerações e modus vivendis ampliou e afinou a sua leitura de mundo e das palavras. Palavras essas temperadas com açúcar e afeto, alinhavadas com fios de ouro ou do mais puro algodão que delicadamente ampararam os sucos retirados da terra para serem cozidos, torrados e esfarinhados sobre lenhas crepitantes dos fogões a lenha, em tachos de cobre, panelas de barro ou de ferro e remexidas com colheres de pau. Palavras sendo transmutadas pelo elemento fogo ou no encontro à mesa, ao sabor do vento ou da chuva. Tempo ruim ou bom nunca será empecilho para um dedo de prosa ou verso. E se junto for servido uma fatia de bolo ou de pão ou mesmo uma cumbuca de sopa fumegante distribuindo aromas milenares, a imaginação alçará voos saborosíssimos, tão próprios de quem sabe. Saber e sabor caminham juntos desde sempre. Este é um livro que traz no seu bojo a riqueza do encontro, o interesse pelo outro, a troca, a generosidade, o profundo apreço pela vida. Estar junto é mais que zelar pela sobrevivência. É um pacto amoroso que nos coloca diante da subjetividade humana, da criação e da beleza. Vidas compartilhadas. Bon apetit!