A guerra consiste no domínio da prática; porém, é impossível abrir mão da teoria, como argumenta Marcus Vinícius Piffer. O ser humano já pensava estrategicamente bem antes que a moderna disciplina da Estratégia tivesse seu arcabouço intelectual estabelecido. Da mesma maneira, desde a Antiguidade Clássica, as campanhas militares apresentavam dificuldades cujas soluções eram buscadas em ações práticas, prescindindo de um conjunto de elementos teóricos que orientassem a tomada de decisões. O Pensamento Militar, por decorrência, aprimora-se justamente em função de longa tradição do estudo dos seus precedentes. Foi o conflito que gerou a teoria, não o inverso. Mesmo a doutrina aparentemente mais inovadora, como aquela empregada pelos alemães em 1939-41, trouxe em seu bojo o cuidadoso estudo das lições dos anos de 1917-18. A combinação das ferramentas oferecidas pela História Militar (que embute em si o estudo da Estratégia e do Pensamento Militar) não implica capacidade de enunciar previsões a respeito do futuro. Sua riqueza encontra-se nas possibilidades que traz para a interpretação dos contextos estratégicos, da essência das adversidades enfrentadas e, sobretudo, da identificação das próprias limitações. Esta última sempre foi um dos maiores desafios enfrentados ao longo das guerras. E é neste sentido que se investe de grande interesse a noção de lições aprendidas. Tradicionalmente vista com suspeição pelos acadêmicos, a ideia de Lições da História é aqui revelada em sua validade para o Pensamento Militar. Piffer esclarece esse dilema de forma competente, vastamente amparado em fontes e no debate contemporâneo sobre os conflitos.