“O encanto particular das orações tomistas e seu poder de edificação residem no fato de terem, numa primeira abordagem, algo de inesperado para quem só conhece de Santo Tomás a altura de um pensamento genial e a amplitude de um saber enciclopédico. Tal piedade e tais efusões, tanta ternura de coração no autor da Suma teológica, das Questões Disputadas e dos Comentários, surpreendem e provocam uma espécie de maravilhamento. Sentimos, deliciados, na sua humilde e doce prostração, todo o peso do seu gênio.
Vemos aqui que o severo método do doutor não era sequidão, dureza, esquecimento dos movimentos da alma e das regiões mais ardentes da vida. Santo Tomás era terno e bom. Tinha o dom das lágrimas. Costumava pousar a cabeça contra o tabernáculo para escutar seus segredos. Extasiava-se diante do crucifixo e um dia ouviu seus oráculos. Era um amigo fiel e um companheiro de uma piedosa doçura. Nele, a vocação do pensamento não criava nenhum obstáculo às virtudes modestas, e em suas sóbrias fórmulas vemos muito bem que se ocultavam, como os frutos e as flores na seiva, todas as potências de fulguração e beleza.
Se me for permitido arriscar um conselho, ouso pedir ao leitor não abordar este opúsculo por curiosidade. Que se una à alma do santo e se deixe levar por ela. Que se deixe levar pelos pensamentos somente para se unir aos sentimentos e progredir nas virtudes. Santo Tomás escreveu sempre nesse espírito. Pensou para viver, e publicou para ajudar os outros a se orientarem com bons pensamentos para realizações cristãmente fecundas”.