A trilogia 'Orestéia de Ésquilo é um dos mais belos e ricos documentos literários da permanência e transformação do pensamento mítico arcaico dentro do horizonte político e do contexto cultural de Atenas no século V a.C. Nesses versos elabora-se o pensamento político relativo ás relações de poder e á questão da Justiça na pólis, mediante o uso sistemático de imagens e noções míticas legadas pela tradição. Em Agamêmnon, o coro de anciãos argivos, perplexos e angustiados ante as contradições do presente, rememora a partida do grande exército coligado contra Tróia e interpreta os sinais divinos que acompanharam a partida. A terrível clareza das reflexões sobre justiça e poder permitiria aos anciãos prever o curso dos acontecimentos , se a dor não o impedisse. Coéforas: 'portadoras de libações funerárias'. A unidade que os une é similar à inesperada e espantosa unidade que se observa entre ser e não-ser, unidade que no sofista de Platão se impõe como condição necessária à captura conceitual do sofista. A tragédia Eumênides de Ésquilo, a última de sua trilogia Orestéia, representada pela primeira vez em Atenas, em 458 a.C., põe e resolve em cena essas questões impostas pela noção mítica graga arcaica de Deuses do Olímpios.