Orestes é o terceiro livro do grupo Trupersa (Trupe de Tradução de Teatro Antigo). A tradução dessa obra clássica é resultado de um método inovador utilizado com sucesso pela Trupersa, que vai além da simples tradução do texto grego para o português. A obra atualiza o texto grego, inserindo-o em nossa contemporaneidade, tornando-o, assim, acessível à leitura e à encenação, preservando as características mais caras ao texto teatral, que é justamente a sua inteligibilidade, teatralidade e encenabilidade.
“Em seu Orestes, Eurípides recria o conjunto de desventuras que se seguem ao assassinato de Clitemnestra como vingança pela morte de Agamêmnon. Se nas Eumênides de Ésquilo o foco está na perseguição das Erínias, que buscam expiação pelo delito de Orestes cometido contra a própria mãe, aqui, Eurípides se volta para as consequências sociais do crime: Orestes e sua irmã Electra se encontram, em Argos, à espera do julgamento da assembleia, que provavelmente os condenará à morte. Há, contudo, uma esperança: depois de muitas dificuldades no retorno, Menelau finalmente consegue voltar à Grécia, podendo, assim, interceder em favor dos sobrinhos.
Em meio aos delírios de Orestes, os planos de fuga de Electra e as variadas mudanças de rumo da trama, Eurípides constrói uma peça intrigante, que mais poderia ser chamada, diante de nossas concepções aristotélicas, de antitragédia, dedicada a trazer ambiguidade às soluções dramáticas de seus antecessores, quebrar expectativas e desconstruir convenções teatrais, levantando-nos uma série de questões: seriam as Erínias ou a loucura a perseguir Orestes? Diante do tamanho de seus infortúnios, conseguem os personagens manter sua grandeza? O que está a dizer o mensageiro frígio, em seu relato? Será razoável a intervenção de Apolo? A incerteza que permeia a peça, encenada pela primeira vez em 408 a.C., encontra paralelos na sociedade ateniense de seu tempo que, imersa na fase final da guerra do Peloponeso, estava fatigada e descrente de si mesma, à espera de um deus ex machina que lhe salvasse.” (Bernardo Brandão)