Oroboro, do poeta uruguaio-mexicano Víctor Sosa (Montevidéu, 1956) apresenta ao leitor num único volume mais de vinte anos de trabalho criativo de um dos mais importantes poetas da atualidade em língua castelhana. Desde o essencialismo zen de Sunyata (1992), a busca de "uma língua" (Rimbaud) em Decir es Abisinia (2001), passando pela proposta poético-epistemológica de Los animales furiosos (2003) - um verdadeiro questionamento da linguagem e sua in/capacidade de dizer o mundo -, o barroquismo ou neobarroco de Mansión Mabuse (2003), La saga del Sordo (2006), Gladis monogatari - esse híbrido ou romance-poema metamórfico -, até a concreção e condensação diamantina de seus últimos livros: Rodtchenko e Ritornelo.A obra poética de Víctor Sosa traça um círculo ou oroboro discursivo (e re/cursivo) que participa desse "mínimo comum múltiplo da lenguagem" (haroldiano) e da herança barroca do Século d'Ouro espanhol (Quevedo/Góngora), assim como suas encarnações no neobarroco latino-americano contemporâneo. Oroboro, poesia reunida, é um mapa em movimento que mostra uma trajetória multidirecional em um sentido rizomático (e circular), auto-referencial, em um transbordamento de fluxos que regressam, e mordem a calda, à maneira dum oroboro, e assim re-nascendo no eterno reflexo do real, que é a linguagem: a palavra.