Primo Levi retoma sua reflexão sobre o campo de extermínio nazista 40 anos depois de ter escrito o primeiro livro sobre o Holocausto. Os sobreviventes dos campos de extermínio nazistas na Segunda Guerra Mundial se dividem basicamente em duas categorias: aqueles que se calam e os que conseguem falar sobre o ocorrido. Conhecido desde a publicação de É isto um homem? — livro de memórias sobre sua experiência prisioneiro judeu em Auschwitz — , o italiano Primo Levi foi um dos que jamais se calaram. Sua voz foi a primeira a reverberar os horrores do Holocausto, apenas dois anos após da guerra.Em Os afogados e os sobreviventes, livro concluído em 1986, Levi revisita com maturidade crítica sua primeira obra e busca responder a perguntas que, com passar dos anos, mastelaram insistentemente em entrevistas, no senso comum e na consciência dos que sobreviveram: Por que os judeus não fugiram? Por que não se rebelaram? Só os nazistas podem ser culpabilizados? São perguntas difíceis, para as quais o distanciamento temporal e a reflexão moral foram fundamentais. Como explicar as ações e os medos em um universo tão díspar como os judeus de toda Europa, os políticos antinazistas, os homossexuais e os criminosos comuns? Como procurar uma mesma resposta junto a indivíduos de sexos, idades e condições sociais em nada similares, alguns oriundos de nações democráticas da Europa Ociental e a grande maioria do Leste Europeu, que quase sempre estiveram subjugados a interesses alheios?Escrevendo sobre o dia a dia de Auschwitz — sobre a disciplina cega dos SS; sobre os prisioneiros moralmente debilitados que aceitavam o colaboracionismo como único modo de escapar à Solução Final; mas principalmente sobre os milhões que tiveram seu futuro negado pelo simples fato de nascerem judeus —, Primo Levi faz uma obra em que cada palavra, cada recordação e cada ponto de vista objetiva esclarecer às futuras gerações, suficientemente afastadas do horror, o que foi a guerra.O Holocausto, as deportações, os trens, as câmaras de gás e seis milhões de judeus realmente existiram. Faz pouco mais de meio século. Não é possível que isso se repita, nem mesmo sob diferentes roupagens, interesses e alvos. Este é o ponto principal do que este livro tem a dizer. Os afogados e os sobreviventes traz a reflexão de Primo Levi em vida nunca se calou e se pronuncia através de suas obras até os dias de hoje.Um registro fundamental para que as novas gerações conheçam e entendam o que foi o holocausto, e com isso nunca permitirem que história se repita.