China, 2013. Com o colapso das potências ocidentais após a crise de 2008, o país se tornou a maior economia mundial, gozando de contínuo crescimento e uma harmonia social nunca vista. As maiores fortunas mundiais estão em mãos chinesas. A bebida mais vendida nos cafés Starbucks – agora uma rede chinesa – é o Latte Dragão Negro com Lichia. É nesse cenário futurista que Chan Koonchung situa seu protagonista, Lao Chen, um escritor taiwanês de histórias de mistério que vive no exílio. Após reencontrar uma antiga paixão, a Pequena Xi – ex-dissidente e uma das duas únicas pessoas que parecem imunes à alegria eufórica que toma conta de toda a China –, Chen inicia uma investigação para tentar descobrir que fim levaram os 28 dias que desapareceram como que por passe de mágica do calendário, de cujos terríveis acontecimentos ninguém se recorda, e o que causou a aparente amnésia coletiva. E também para entender por que ele mesmo se sente feliz (ou ao menos contente), sem saber exatamente por quê. Lançado em Hong Kong em 2009 e imediatamente banido pelas autoridades da China continental, onde só foi lido em milhares de cópias contrabandeadas, Os anos de fartura tem sido comparado em todo o mundo com grandes romances distópicos como 1984, de George Orwell, e Admirável mundo novo, de Aldous Huxley. Lançando mão de um futuro próximo sombrio, Chan Koonchung convida o leitor à reflexão não apenas sobre a China de hoje e sobre o preço da opulência e da felicidade, mas também sobre a conveniência da memória e do esquecimento, e sobre o que constitui a identidade de uma nação.