Neste livro, Pierre Ansart apresenta o fascinante retrato dos “clínicos das paixões políticas”. Autores distantes no tempo e no espaço, diferentes em status e função, todos eles – Confúcio, Platão, Santo Agostinho, Maquiavel, Corneille, Tocqueville, Marx, Freud, Raymond Aron e, finalmente, Charles de Gaulle – têm em comum uma preocupação idêntica: assegurar a gestão das paixões políticas por meio de uma ritualização de comportamentos relacionados – para além de regimes específicos – à política no sentido antropológico. Ansart enfatiza que a paixão política tem uma especificidade: mantém relações poderosas e confusas entre o sujeito e seu grupo, ainda que outras experiências da vida social tendam a enfraquecê-los: enquanto diferenças de status, desigualdades materiais, diferenças de idade e sexo lembram a evidência das separações entre os cidadãos, as afetividades políticas são capazes de superar essas distâncias e recriar um “nós”, despertando assim sentimentos de identidade para além de todas as divisões. Ansart comenta, ainda, que essa fusão do sujeito no coletivo por meio da afetividade política também pode possibilitar a loucura ou o delírio político. Em suas reflexões, ele conclui que, apesar da abundância e da diversidade de práticas terapêuticas destinadas a casos particulares, pode-se observar uma dramática pobreza de clínicas destinadas à vida pública, e mesmo a ausência de clínicas efetivas em nível coletivo. Esta é uma obra maior. Discernindo a permanência das paixões políticas, Pierre Ansart sublinha a necessidade de uma abordagem clínica para compreendê-las e manter a esperança de resistir, como clínicos, às tiranias contemporâneas, à demagogia e ao populismo. Claudine Haroche Universidade de Paris I