Deus existe? A alma vive separada do corpo? A providência guia todas as coisas para o bem? O leitor tem em mãos a tradução dos Elementos da Teologia de Proclo (412-485 E. C.), a mais antiga tentativa (dentre as que chegaram a nós) de responder a essas questões metafísicas seguindo o modelo dos Elementos de Euclides, constituídos de mais de duzentas proposições organizadas em uma ordem lógica, de modo que cada proposição vem acompanhada de uma prova e as provas das proposições posteriores, valendo-se das proposições iniciais para a sua fundamentação. Nesse sentido, cabe assinalar que Proclo já foi chamado de “o filósofo mais influente do qual você nunca ouviu falar”, o que poderá ser comprovado por meio da leitura da presente obra. Nela se encontram argumentos favoráveis à existência de um mundo fundado em um único princípio divino, hierarquicamente organizado, com almas imortais e espíritos mediando entre a alma e o divino — uma imagem que pode parecer familiar aos que comungam da herança cristã, na qual Proclo teve enorme influência, especialmente por meio de Dionísio, o Areopagita, e de Tomás de Aquino. (A própria palavra “hierarquia” foi cunhada pelo Areopagita na sua adaptação cristã da metafísica procliana.) Por outro lado, há muitos elementos da tradição esquecidos: Proclo argumenta que há não só um, mas vários deuses; que não há apenas uma providência, mas muitas, cada uma sendo uma metafísica própria que participa do governo do mundo; que a origem de todas as coisas não é o bem, mas o valor, que está além da oposição entre o bem e o mal; que a alma é imortal, mas não particularmente humana, e transmigra por infinitas vidas. Desta perspectiva metafísica de Proclo, o que chamamos de “nosso corpo” é apenas a derradeira vestimenta de um veículo luminoso e perpétuo da alma.