Os expurgos na UFRGS é um livro marcado pela dor. Aquela, muito peculiar e persistente, que carrega na memória quem sofreu uma grande injustiça. Nesta obra é analisada, sob diferentes aspectos, uma forma de repressão aplicada contra vários professores e professoras pelo sistema de controle social que sustentava a Ditadura Militar (1964-1988). Quarenta docentes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul foram sumariamente afastados em 1964 e 1969. Pessoas que tiveram, com suas famílias, de lidar com o medo, com a ruptura na carreira profissional e com o desafio de recomeçar a vida em outro país ou, em alguns casos, em um “exílio interior” marcado pela incerteza e insegurança. Antes do expurgo, alguns haviam recém-começado suas carreiras, outros já eram referências em suas áreas. Integrariam a enorme lista de professores cassados pela ditadura. Nela, vários dos mais importantes nomes da intelectualidade brasileira. Das universidades e, em muitos casos, do país, os militares e seus colaboradores civis afastaram a maioria dos nossos melhores intelectuais, dos mais competentes professores, dos mais destacados cientistas e artistas brasileiros e brasileiras. Isso diz muito sobre o perfil daquele regime e de seus apoiadores. Não foram poucos os que, concomitantemente ao expurgo, sofreram outras formas de repressão. O “estigma do cassado” ainda perseguiria aqueles docentes em suas trajetórias subsequentes, como um efeito secundário da cassação, impactando-os de diferentes maneiras e tornando ainda mais difícil a superação da repressão sofrida. Esta obra é a principal referência sobre o tema. Solidamente fundamentada na análise de documentos (muitos inéditos) oriundos da universidade, do MEC, das Forças Armadas e do Serviço Nacional de Informações, além de dezenas de entrevistas com os professores e professoras expurgados e outras pessoas que viveram aquele processo, possibilitou ainda a revelação de um caso de expurgo até então desconhecido. Um livro fundamental para pesquisadores da temática e para qualquer pessoa interessada em compreender os arbítrios e as violências que marcaram o passado recente do Brasil. Conhecer essas histórias é decisivo para que possamos superar graves problemas que permanecem em nossa sociedade e que têm ameaçado, sobretudo desde o golpe de 2016, nossa ainda jovem e frágil democracia.