Como é possível a uma sociedade com um crônico déficit externo gerar processos internos de enriquecimento e, com isso, consolidar uma hierarquia profundamente desigual? Esta é uma das perguntas que Patrícia Sampaio, sem cair no fácil esquematismo da teoria da dependência, procura responder ao estudar Manaus entre 1840 e 1880. A autora faz parte da segunda geração do que hoje começa a ser conhecido como a Escola do Rio. Um grupo de jovens historiadores que, no anos de 1980, reuniu-se no Programa de História Agrária da Universidade Federal Fluminense, ao redor da Professora Maria Yêdda Leite Linhares e do Professor Ciro Cardoso, com a preocupação de analisar as mudanlas e permanências na sociedade rural brasileira. Uma das marcas do grupo foi a revisão crítica de alguns dos quadros explicativos presentes na historiografia nacional através da investigação exaustiva de séries documentais inéditas, aliada ao uso dos métodos de pesquisa propostos por Ernest Labrousse e pela geração de Fernand Braudel e Pierre Goubert do Annales. A estas influências. Patrícia combina uma abordagem antropológica (inspirada em Carlo Ginzburg e Geovani Levi) que lhe permite, por exemplo, escrever um belíssimo capítulo sobre a elite mercantil do Amazonas onde, ao lado dos índices econômicos, trabalha as relações políticas, de parentesco e de amizade, demonstrando que o entendimento destas é essencial para a análise das estratégias de acumulação das riquezas e de reprodução social do grupo. Enfim, Os Fios de Ariadne conduzem o leitor para o interior da complexa teia de relações sociais que consiste Manaus - com seus barqueiros índios, lavradores mestiços e mercadores estrangeiros - na segunda metade do oitocentos. Mas, também estes fios podem ajudar a compreender um pouco mais a dinâmica das regiões que, com certa pressa, são denominadas simplesmente de periféricas.