OS ÓCULOS DO POETA

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Os óculos do poeta é o livro de estreia de Luciano Alberto de Castro. Trata-se de uma seleção de 50 crônicas (35 já publicadas em jornais e revistas e 15 inéditas) nas quais o autor transita por temas diversos: da crônica lírica existencial aos temas políticos; da crônica urbana às referências a personalidades históricas, da música e da literatura. Em todas elas, o que salta aos olhos é a verve do cronista refinado que desfia seu pensamento, numa prosa ágil, moderna e espirituosa. Você se surpreenderá com a reflexão filosófica sobre a história de Chapeuzinho Vermelho, a tecnologia do riso, a vida conjugal dos canários etc. Nas crônicas de Luciano, os assuntos fluem sem nenhum apelo, sem o pedantismo habitual, e resultam num saboroso diálogo com quem lê, à guisa de mestres como Rubem Braga, Drummond e Paulo Mendes Campos. O cronista mineiro sabe encadear suas histórias, estruturando narrativas que cativam o leitor, enquanto traz reflexões incisivas e pertinentes sobre o mundo, a realidade e o cotidiano. A boa crônica brasileira está de volta com Os óculos do poeta.

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O que torna um cronista genial? Não é a maestria da língua, sequer a mais primorosa construção de texto. Não. A medida aqui é outra. O cronista genial nasce no olhar. Na capacidade de transformar fatos e fenômenos em histórias. Em boas histórias. Arrancar as experiências da sua trivialidade, cavoucar o cotidiano em busca de sua estranheza — esse é o desafio do cronista. Nas mãos do bom cronista, a manchete de jornal é apenas a ponta de um fio que alinhava real e imaginado. Não à toa, o livro de Luciano Alberto de Castro chama-se Os óculos do poeta, porque essa é a ferramenta do cronista: as lentes que esquadrinham aquilo que se vê, em busca daquilo que está lá, mas o passante distraído não percebe. Também não por acaso, Os óculos do poeta são crônicas de circunstância. Circunstâncias são as coisas jogadas no tempo, situações embrulhadas na sua existência apenas ocasional que ganham uma nova realidade na escrita do cronista. Luciano Alberto de Castro é um cronista genial, que alia o olhar agudo e perceptivo ao “sentimento do mundo”, como teria descrito Drummond, caso tivesse nas mãos essa coleção de crônicas.

Adília Belotti

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