“Os pés descalços de Ava Gardner” é o segundo livro individual de contos de J. L. Rocha do Nascimento, que estreou em 2019 com “Um clarão dentro da noite”, também publicado pela Scortecci. Os contos se dividem em duas partes bem definidas. A primeira se compõe de narrativas curtas, quase minimalistas, marcadas por uma linguagem direta e ligeira, mas também angustiante e, por vezes, cruel, sem concessões, do que não escapa nem mesmo o narrador, como é o caso do conto “Noite feliz”, onde quem narra não é apenas um mero observador. Ao contrário, ele está inserido no próprio mundo que despreza e não demonstra qualquer tipo de autocomiseração. Outro exemplo é o conto “Na rede”, que, ao reproduzir o diálogo entre duas pessoas num aplicativo de mensagem, aos poucos revela de como uma conversa inicialmente amistosa se transforma num palco ideal para agressões e ofensas mútuas, numa demonstração de que as redes sociais, atualmente, no mais das vezes, se prestam para se destilar ódio, expressar preconceitos e desejos de vingança. A segunda parte é composta de contos de maior fôlego, tanto em extensão como em dramatização. Ainda assim, fragmentados por divisões internas, constituindo-se elas próprias, como num exercício de metalinguagem, de pequenas histórias dentro da história principal, mas que, no conjunto, compõem um único painel. Exemplos emblemáticos nesse sentido, dentre outros, são os contos “Os oito pecados capitais”, “Redondilhas” e “Deus salve Antônio Leiteiro”, além do conto que dá título ao livro. Constituído de uma diversidade de temas, todos eles universais como amor e ódio, memória e sonhos, velhice e solidão, vida e morte, de comum entre os contos, se destaca: o diálogo com outras formas de expressão, como o cinema e a música, além da própria literatura, como é o caso do conto “Eu queria escrever como Rubem Fonseca”, no qual o protagonista não esconde sua devoção pelo grande contista brasileiro. É nessa parte do livro que também se concentra, de forma mais agu