Este livro trata de dor, muita dor, dor ininterrupta e cruel, a dor crônica. A dor é o arauto da nossa vulnerabilidade e finitude. Portanto, ao se manifestar, ela atrai atenção exclusiva sobre si e demanda concentração absoluta para a sua resolução. A dor parece o prenúncio da morte, por isso gera pavor e evoca reações psicossociais de dimensões importantes. É impossível ignorá-la. E toda a família do paciente é envolvida por pena, incompreensão, angústia e raiva. Ainda assim, somos culturalmente orientados a não expressar as nossas dores, a não falar delas. Manifestar o mal-estar causado por alguma dor é algo compreendido como sinal de fraqueza e falta de autocontrole. Quem reclama é considerado chato, especialmente quando não há evidências fisiológicas para a dor. Daí surge o outro lado da dor: ninguém quer ouvir quando uma pessoa sente e manifesta dor. Embora perguntemos socialmente: “Como você está”?, de fato não queremos saber. Esperamos que o outro nos diga com um sorriso no rosto: “Tudo bem”! Ficamos perturbados e não sabemos como reagir quando alguém diz: “Não estou bem!” ou “Estou com muita dor!”. Faça o teste, e verifique você mesmo a expressão facial estupefata das pessoas. Este livro trata da dor crônica e seus significados para a família.