Nos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial, as grandes potências europeias - Grã-Bretanha, Alemanha e Rússia - eram governadas por três primos: Jorge V (rei-imperador da Inglaterra, do Império Britânico e da Índia); Guilherme II (o último cáiser) e Nicolau II (o último tsar). Juntos, reinaram sobre os últimos anos da Europa dinástica, no início da mais destrutiva guerra até então já vista, inaugurando o século mais violento da história europeia. A escritora e biógrafa Miranda Carter revirou em minúcias a correspondência entre os três primos e vasculhou uma série de fontes históricas para desvendar os bastidores de um mundo fora de sintonia com a época. Os três imperadores é um retrato de três homens - o desacreditado e egocêntrico Guilherme, o discreto e teimoso Nicolau e o ansioso e diligente Jorge - e suas vidas, fraquezas e obsessões. Também apresenta uma análise precisa de figuras determinantes: a rainha Vitória - avó de dois deles -, cujo conservadorismo e obsessão com a família deixaram um perigoso legado; e Eduardo VII, que acabou revelando um notável talento para as relações internacionais e a teatralidade da política de massa. Ao mesmo tempo, Carter entrelaça um instigante relato dos acontecimentos que levaram à Primeira Guerra Mundial, mostrando de que maneira o pessoal e o político interagiam, com efeitos devastadores. Para os três imperadores a guerra seria um desastre, acabando para sempre com a ilusão de seu estreito relacionamento familiar e deixando qualquer sentimento de paz e harmonia destroçado em traições, assassinatos e abdicações. “Os três homens por trás da Primeira Guerra Mundial estão interligados por décadas de casamentos arranjados, em grande medida, pela rainha Vitória, que acreditava na manutenção dos laços reais para assegurar a paz na Europa.”, explica Carter em entrevista para em seguida esboçar o perfil dos três líderes: “Guilherme II era mimado, voluntarioso e perigosamente ressentido, fixado com a ideia de causar impacto no cenário internacional. Nicolau II era tímido e ingênuo, porém convicto de seu direito divino para governar e sem qualquer disponibilidade para lidar com o mundo moderno. Assim como seu primo, Jorge V era também tímido e estava mais preocupado com a vida no campo e com sua coleção de selos do que com o desenrolar dos fatos que levariam à guerra.”. Jorge, Guilherme e Nicolau nasceram num mundo em que a monarquia hereditária parecia uma realidade eterna e os casamentos cruzados e o internacionalismo das dinastias reais, uma garantia de paz e boas relações internacionais. Por meio das biografias desses três primos, o livro refaz o trajeto de como esse arranjo de poder caiu em ruínas. Os três eram figuras anacrônicas, e o sistema em que se inseriam estava plena decadência. As cortes europeias haviam deixado de ser centros vibrantes para se transformar em poças estagnadas de tradição e conservadorismo. Os grandes progressos técnicos, as inovadoras teorias científicas, as grandes obras-primas modernas das artes e das letras eram produzidas por homens - Tchekhov, Stravinsky, Einstein, Freud, Planck, Yeats, Wilde, Picasso - que podiam ter nascido em monarquias, mas para os quais as cortes nada significavam. Apesar de ultrapassados pelo mundo, os três imperadores foram testemunhas da alta política nas décadas anteriores à guerra, beneficiando-se de uma proximidade negada a qualquer outro indivíduo.