O que nos resta pensar em um outro dia ou de um outro dia, que se espera, seja diferente de hoje e de ontem? Em Outro Dia: Intervenções, Entrevistas, Outros Tempos, que a editora Perspectiva leva ao público de língua portuguesa pela coleção Estudos, ao fazer balanços de varejo e inventários de detalhe, daqui e dalhures ou de Europa, França e Bahia, como se diz, Ruy Fausto segue uma máxima crítica de Merleau-Ponty enunciada contra a ´política´ dos filósofos, de resto, uma mistificação da política: a falsa impressão de relevância que dá toda teoria que, ao se pretender exaustiva, não esgota a realidade, mas escapa dela. Pensar uma esquerda para além dos equívocos e becos sem saídas do século XX, é pensar sobretudo o detalhe, e recuperar, como diz o autor, uma função crítica do entendimento em face do fetichismo da crítica. O que significa que não há, de modo algum, qualquer restrição para o pensamento político, desde que ele permaneça pensamento sobre a política e não uma política do pensamento. Bem se sabe a favor de quem funciona o fetichismo da crítica: a favor do antipensamento, do dogmatismo e da escola. Um Outro Dia para a esquerda também é isso: pensar contra a crítica e contra a corrente, pensar a contrapelo é, sob todas as formas e rigorosamente, pensar. Eis a proposta para um outro dia.