Durante toda sua vida, Alfred Hitchcock sofreu influência da mãe dominadora e sufocante. E sempre teve pavor de pássaros. Estes dois componentes, juntos, talvez expliquem por que o mago do suspense escolheu inocentes aves para compor Os pássaros, baseado num conto de Daphne Du Maurier. Espécie de apocalipse segundo Hitchcock, em que gaivotas, corvos, todos os emplumados do planeta parecem encarnar forças do mal. No livro 'Os pássaros' (The birds) a americana Camille Paglia manipula idéias assim e mais um sem-número de componentes psicológicos, na tentativa de explicar a tempestade mental que deu origem a essa obra-prima do cinema. Apaixonadamente e minuciosamente, ela vai muito além das questões psicológicas. Disseca, por exemplo, cada um dos efeitos especiais que o cineasta conseguiu, primeiro pensando em pássaros mecânicos (que acabou usando apenas em algumas cenas) e depois preferindo pássaros vivos. O que o levou, por exemplo, a colar gaivotas pelos pés num telhado. E a lidar com acidentes, como quando uma ave feriu a atriz Tippi Hedren num olho.