Paulistana — crônicas de um minuto, de Regina Dias, é uma coleção de pedras preciosas literárias lapidadas em um exercício fino de concisão e precisão. A cineasta vence o desafio autoimposto de exibir em outra arte as imagens de sua infância, entes queridos, viagens e paisagens, revelando suas mais delicadas e finas memórias e reflexões. Oferece um vislumbre de impressões íntimas das suas jornadas aos centros do mundo, seja para reencontrar a si mesma numa missa na Notre-Dame ou fixar o tempo numa cabine de fotos automáticas em Londres. Atesta a mesma reverência por nossas próprias paisagens, urbanas ou do interior. Conquista nossa atenção com a lógica irretorquível do capataz que observa, diante de uma romaria a cavalo, que o verdadeiro romeiro não terceiriza o sacrifício para sua montaria. Reclama do afiador de lâminas que persiste em arrastar o passado até o coração da metrópole, mas, como o despertar de um sonho esquecido, nunca se deixa alcançar depois de nos encantar com seu apito. Encara a doída alegria da saudade, eternizando os próprios pais como um jovem casal em lua de mel na praia, e nos confessa da coragem necessária para se acomodar à solidão após a perda do companheiro. "Escrevo desde sempre, e Paulistana levou muito tempo", nos informa Regina. Generosamente, neste nosso tempo de hiperinformação, pede apenas um minuto para apreciar cada joia que brilha com seu olhar inspirado.