O livro é uma diversidade poética de temas, tempos e territórios. “Com dor, lirismo, paixão, erotismo, Adalberto nos traz a poesia. Mas também como faca, como punhal afiado, como fuzil, como petardo. A poesia que ele nos presenteia é múltipla como a face do tempo que vivemos”, destaca o escritor Joan Edesson de Oliveira no prefácio da obra. Um dos poemas de Pé de Ferro proclama o que talvez seria sua síntese: “O que é um livro de poemas senão os olhos arregalados querendo saltar dos ossos da face para vislumbrar o futuro? O que será um livro de poemas senão o estuário no qual desembocam as alegrias e as desgraças do mundo?”. Essa multiplicidade de motivações poéticas está distribuída em cinco capítulos, quase como fossem cinco livros encadeados numa só obra. Como bem salienta o escritor paulistano Jeosafá Fernandes Gonçalves na “orelha” do livro: “Adalberto Monteiro, poeta que no caco solto antevê o mosaico de identidades truncadas, recolhe neste Pé de ferro & outros poemas os fragmentos mal soldados que, ao se despregarem da colcha de retalhos algo rota da metrópole e do mundo, caíram-lhe às mãos como migalhas crocantes de pão fresco.” A metrópole é a cidade de São Paulo. Entre os poemas, há aqueles que captam com lirismo sensível aquelas cenas da cidade que passam desapercebidas pela multidão. "Até ontem era uma menina. / Está descalça, mas usa meias, / Que combinam com sua calça cáqui. / À moda dos piratas, / Um lenço grafite amarrado na cabeça. / Está suja sim, mas não imunda. / Na sarjeta, um resto de elegância, / Um fragmento de vaidade, / Uma raiz de dignidade. / Um broto novo da árvore da vida / Tenta sobreviver às pragas. / Mas seu corpo esguio tremula muito. / E no seu rosto belo, moreno, / Há tanto pânico, tanto medo, / Que não sei se ela conseguirá. / Uma brasileira às portas da juventude / Agoniza / À boca da estação República.