Na herança agostiniana, a morte se liga ao pecado original na desobediência a um criador onipotente e que transcende a realidade. Impressiona saber que este livro, repleto de reflexões tão profundas, densas, assentadas sobre um vasto conhecimento teológico da história, da teoria filosóficas de várias épocas e culturas, traz presente os arquétipos de Adão e Eva fazendo-os valsantes nos labirintos da miserabilidade humana, responsabilizando-os, e marcando-os para sempre. O pensamento de Agostinho sobre a doutrina do pecado original, embora não prioritário, ganha destaque no livro elucidando suas ideias sobre a concupiscência, o “Pecado Original” e os embates com o maniqueísmo e o pelagianismo. O livro trata essas ideias respeitando a originalidade de cada uma, ao mesmo tempo em que as coloca no confronto com o pensamento de Agostinho. Dayvid da Silva se expressa, nesta obra, em variações de crescente complexidade linguística e ornamentação harmônica de rara e indescritível beleza a respeito da linguagem teológica clássica. Exige fôlego na concatenação dos conceitos para evitar rupturas na linguagem. Ao mesmo tempo, transmite domínio do assunto o que facilita a compreensão do leitor acerca dos temas tratados. Seu estudo é como uma composição em vários movimentos onde a elaboração teológica torna--se relevante a cada contexto histórico ao clarificar as contribuições e o aparato histórico que dá sustentabilidade, mas não impede a reflexão de cada época sintetizadas na pluralidade e na unidade inacabadas. Pode se dizer que o livro é um espetáculo coreográfico onde a caixa de ressonância é a vida humana em suas interpelações e desafios que parece "transcender" ao tempo (kronos) rumo a um desfecho inacabado.