O leitor acostumado com o vocabulário teológico pode sentir um leve estranhamento quando se diz que o propósito da teologia é outra coisa que não falar direta e principalmente sobre Deus, já que o vocábulo de origem grega, theoslogos, parece indicar assim. Pois bem, aqui encontramos um caminho alternativo e, ainda assim, tradicional. Para os autores, a teologia deve se ocupar com a adequação criativa e sempre renovada da verdade de que Deus deseja habitar no mundo e fazer lar junto à sua criação. Isso certamente pressupõe a tarefa tradicional de re?etir sobre a natureza e o ser de Deus, com todas as dificuldades que isto implica, mas não como o fim último da teologia. O estudo de Deus é melhor entendido quando é feito junto ao estudo do objetivo de Deus para a sua criação - testemunhado pelo texto bíblico e elaborado pela teologia ao longo dos séculos. Assim, este é um livro voltado à vida do teólogo e da teóloga. Se a teologia é singular porque sugere, articula e recomenda a vida frutífera segundo a fé em Jesus, o teólogo e a teóloga também devem construir sua vida sob a visão de florescimento que recomendam. Pensemos, por exemplo, nos compromissos mais elogiáveis da teologia atual: o compromisso com a casa comum, com o pobre e o oprimido, com o acolhimento e a misericórdia, com a luta contra as desigualdades, preconceitos e injustiças, ou mesmo o compromisso básico com a vida de devoção e contemplação cristã: sem a adequação possível do compromisso teórico com a vida do teólogo e da teóloga, não haverá qualquer razão para que seus leitores façam o mesmo.
Tiago de Melo Novais