"Pode parecer que, sobre Blaise Pascal, já foi dito tudo o que havia para dizer. Mas Pascal é um daqueles escritores que serão, e devem ser, estudados novamente por homens de todas as gerações. Não é ele que muda, mas somos nós que mudamos. [...] Dada sua combinação única e equilíbrio de qualidades, não conheço nenhum escritor religioso mais pertinente ao nosso tempo" — T. S. Elliot Nos poucos anos em que freqüentou as reuniões sociais, Pascal — que era, segundo Elliot, "um homem do mundo entre os ascetas e um asceta entre os homens do mundo" — constatou que, na alma dos convivas, libertinos e ateus, o interesse por questões científicas e literárias estava aliado a uma total impenetrabilidade para o sentimento religioso. Decidiu dedicar à sua conversão, dali em diante, todo o labor de sua pena, e propôs-se a elaborar uma apologia do cristianismo, não demonstrando as verdades da religião como se faz em geometria, de maneira abstrata, mas instalando-se no ponto de vista do homem natural, que pensa ser auto-suficiente. Esta é a origem dos "Pensamentos", que não puderam afinal ser organizados numa obra perfeita e acabada, e que são, nas palavras de Sainte-Beuve, "uma torre cujas pedras foram colocadas umas sobre as outras, mas não cimentadas". Por isso, os muitos papéis que deixou têm uma história própria, de inúmeras e diferentes edições, que tentam interpretar como teria o gênio ordenado essas anotações de idéias ainda imaturas, pois, de fato, como diz Émile Boutroux, vemos os seus pensamentos nascendo diante de nós, e surpreendemos Pascal conversando consigo mesmo nas profundezas de sua consciência. Esta nova tradução brasileira traz, além de uma apresentação histórica e biográfica, os fragmentos numerados e as notas explicativas da clássica edição do filósofo Léon Brunschvicg — co