Perspectivas quase filosóficas é o título mais apropriado para designar este escrito que circula entre as exigências da filosofia e a exaltação da literatura, convidando o leitor a se imiscuir nas exigências conceituais das palavras, mas não necessariamente nos rigores tradicionais de suas respectivas técnicas. Este é um escrito oscilante, pois ilumina e combate os ícones tradicionais sem ser uma contenda justa. O autor pode parecer, às vezes, ríspido, gratuito no uso de conceitos e igualmente humorado em outras passagens. Não há aqui uma tese central, de modo que cada texto, aparentemente, fala por si mesmo, a ponto de o leitor poder se permitir a leitura esparsa dos conteúdos desta obra. Ao mesmo tempo, um leitor mais atento, que fizer o uso de uma leitura contínua dos escritos, inevitavelmente perceberá um liame que une os textos, um após o outro. Ocasionalmente, o riso surgirá, mas ele se converte em uma crítica apurada a determinados grupos e comportamentos. A bem da verdade, este escrito é uma denúncia da intolerância e dos preceitos que organizam as inclinações políticas de um espaço que, por origem, deveria aspirar à sabedoria e à troca contínua de ideias. É aqui que esta obra se encaixa como uma brincadeira reflexiva que esconde aos olhos que se tornaram obumbrados a passividade irrefletida de seus comportamentos: este livro apresenta a singularidade da vida desvelando em metáforas “quase filosóficas” a insultuosa cotidianidade de seus establishments e jogos de interesses.