O que é um ser humano? Rios de tinta já foram gastos para tentar responder a essa pergunta. Há teorias centradas no universal, considerando o indivíduo um mero resultado do meio socioeconômico ou um exemplar de um gênero próprio da Natureza, ou ainda o último estágio de um processo evolutivo e de desenvolvimento hereditário. Há também teorias centradas na individualidade, e qualquer aspecto universal parece mera ilusão, convenção ou constructo ideológico. Pessoa Humana e Singularidade em Edith Stein, de Francesco Alfieri, apresenta com riqueza de detalhes - e em linguagem acessível - a antropologia filosófica dessa pensadora que iniciou sua carreira como assistente de Edmund Husserl, sofreu com o machismo e o antissemitismo na universidade e terminou assassinada em A uschwitz. A intensidade com que Edith Stein viveu e lutou para impedir a profanação do íntimo mais íntimo de sua personalidade explica certamente a ousadia de sua concepção do ser humano: ela articula fenomenologia e pensamento medieval (sem alterar o projeto husserliano e sem cair em nenhum realismo ingênuo), a fim de investigar o que se pode considerar universal na experiência humana e, ao mesmo tempo, fundar a compreensão dessa experiência na singularidade única e irrepetível de cada indivíduo. Ela não tem receio em falar de pessoa, mais ainda, de pessoa humana, sabendo que esse adjetivo não é pleonástico. Este livro tem vários estratos: fala a língua dos iniciantes em fenomenologia, mas também dá a pensar aos interessados em mergulhos mais profundos, como é o caso do tratamento steiniano ao clássico problema da individuação. Termina com uma reflexão sobre o educar e a comunidade e apresenta alguns recursos pedagógicos preciosos: um glossário e a biografia steiniana já pub licada no Brasil.