O processo de planejamento, encarado como a racionalização das decisões do poder público a fim de antecipar obstáculos e adequar os recursos aos objetivos e metas, tem caracterizado crescentemente o estilo político de países capitalistas e socialistas. Contudo, contrariamente à alegada natureza técnica e, portanto, neutra e objetiva do planejamento, este se revela como um ato essencialmente político. Mas, os interesses heterogêneos e o caráter conflitivo de nossa sociedade tornam a atividade política extremamente difícil para ser planejada, pois ela reflete todas as contradições, juízos de valor e a própria irracionalidade da situação social. Diante as críticas crescentes com relação à legitimidade do planejamento, utilizado frequentemente como instrumento de controle e de manipulação das massas, questiona-se a possibilidade de separar o ato técnico de planejar da ética e da clientela, ou seja, dos grupos de pressão e de interesse. Como, então, assegurar que as necessidades e aspirações das camadas menos afortunadas da população consigam manifestar-se através e, às vezes, apesar do sistema político, a fim de influenciar as decisões contidas nos planos? Os estudos aqui reunidos em Planejamento e Bem-Estar Social, por Henrique Rattner, Professor da Fundação Getúlio Vargas, trazem não só a contribuição especializada como o posicionamento empenhado. Pois, do conjunto das análises específicas a que procede, reponta reiteradamente uma conclusão implícita: a da necessidade inadiável de abrir vias de comunicação e de participação cultural e política da população, a fim de que seus problemas existenciais possam encaminhar-se para soluções adequadas.