No período em que se comemora o centenário do projeto de criação e implementação dos canais em Santos, este livro do arquiteto Sidney Piochi Bernardini esclarece não apenas os aspectos técnicos da elaboração e construção do sistema de saneamento básico de Santos, mas também descreve em detalhes as questões políticas e econômicas da época. O autor mostra o real significado dessa importante e abrangente obra pública, tanto no que diz respeito às modernizações promovidas por Estevan Fuertes e Saturnino de Brito como às inúmeras revelações do jogo político travado entre os chamados conservadores e liberais. Desde o início do período republicano, o saneamento de Santos estava na agenda política do País. Porto de embarque do café, porta de entrada dos imigrantes, a cidade, naquele momento histórico, associava-se estratategicamente às transformações estruturais vividas pelo Brasil. Este livro busca desvendar 'a articulação de forças políticas e econômicas', nos termos de Sidney Bernardini, que fundamentou essa transformação urbana. O autor surpreende todo um esforço de planejamento territorial e urbano em que se entrelaçam e entrechocam os interesses de diversos empreendedores nacionais e estrangeiros, dos negócios imobiliários, de profissionais de relevo, de grandes companhias, de construtores de todos os calibres, envolvendo as diferentes esferas de governo. Santos colocava-se como pomo da discórdia, já que as obras requeridas eram custosas, visíveis, centrais. As tramas políticas descritas no livro, envolvendo nomes conhecidos de nossa história, como Bernardino de Campos, Jorge Tibiriçá, André Rebouças e outros personagens famosos, são esclarecedoras.