A imagem dos sofistas que nos foi legada pela tradição filosófica é quase sempre negativa, sendo associada ao uso inescrupuloso da arte da oratória e da retórica em proveito próprio e dissociada do compromisso com a verdade. Por outro lado, sabemos que pensadores como Protágoras ou Górgias costumavam encantar suas plateias com o poder de seus discursos, que invariavelmente revelavam a fragilidade dos valores e da verdade que seus contemporâneos pensavam possuir. Este livro procura entender e analisar como essa imagem depreciativa foi construída historicamente através dos séculos de primazia da filosofia platônica. Trata-se de uma oportuna contribuição diante da escassez de bibliografia em nossa língua sobre este assunto. Apresenta diferentes abordagens alinhadas com a crítica contemporânea para trazer à luz a riqueza do pensamento sofístico, aquilo que tem de mais valioso e genuíno. A atuação dos sofistas alcança seu apogeu por volta do século V a.C, justamente no momento de maior efervescência cultural, econômica e política da Grécia antiga. Eram considerados educadores e ensinavam a arte da palavra aos jovens cidadãos que iniciavam sua vida política na cidade-estado. Essa era uma tarefa de extrema importância numa sociedade em que o uso da palavra se confundia com o exercício do poder e a participação na ágora era requisito de todo cidadão. Não há dúvida de que os sofistas antagonizaram com o pensamento filosófico de Sócrates e Platão – e sua busca das ideias verdadeiras e dos valores universais. Talvez por isso mesmo tenham sido acusados de relativistas, oportunistas ou mesmo mercenários. A partir das análises de diversos estudiosos, os textos aqui reunidos questionam esse preconceito histórico, afirmando a importância dos sofistas para o exercício da democracia e a construção do livre pensamento.