Álvaro de Campos era o heterônimo mais escandaloso e febril de Fernando Pessoa (1888-1935). O poeta português dizia que os versos de Campos lhe ocorriam quando ele sentia um impulso indefinível para escrever. Sua poesia explosiva pôs abaixo as formas tradicionais do lirismo e da poesia parnasiana e simbolista. Alguns dos mais conhecidos versos do heterônimo expressam essa crise artística e de identidade do homem moderno: "Não sou nada./ Nunca serei nada./ Não posso querer ser nada./ À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo". Fortemente influenciado pelo futurismo italiano, Campos foi o poeta que cantou o fascínio moderno pelas máquinas. Mas, como escreve o poeta e crítico Sérgio Alcides na orelha do volume, "ele é todo contradições: futurista que ironiza o progresso, modernista encharcado de nostalgia, ateu lamentando a fé perdida, cético ansiando por visões que nunca se dão". Poesia, de Álvaro de Campos, reúne a produção completa do poeta, que vai de 1914 até 1935, e inclui textos inéditos e revistos. A organização de Teresa Rita Lopes segue as indicações do próprio Fernando Pessoa, que previu um livro só com os poemas de Álvaro de Campos.