O sétimo livro de poemas publicado por Marco Catalão é um caso único na poesia contemporânea brasileira: um livro que não se limita a comover e deleitar, mas que também se propõe a instruir, não com didatismos facilitadores, mas com a liberdade imaginativa da poesia. Tomando como ponto de partida a afirmação de Ralph Waldo Emerson de que “o etimólogo descobre que a palavra que parece mais morta já foi uma imagem brilhante”, Poesia Fóssil nos conduz numa viagem surpreendente que remonta às raízes longínquas da língua portuguesa e que deságua em termos contemporâneos como treta, spam, drone e presepada. Com graça e erudição, o livro alterna definições líricas inovadoras, como a de sarcasmo (“palavra que escalavra”) ou a de petulância (“topete de quem se mete com o que não lhe compete”), a narrativas saborosas, como a do erro de grafia que resultou na palavra zênite ou o grito de alegria que teria originado o vocábulo dominó, culminando em momentos de pura epifania, como quando descobrimos as circunstâncias em que a palavra coco foi incorporada ao português, ou o dia exato em que Cristóvão Colombo anotou pela primeira vez em espanhol a palavra canoa. Como observou T. S. Eliot em relação a James Joyce, a consciência sobre a história das palavras e sobre os diferentes sentidos que se atribuíram a um vocábulo ao longo dos séculos auxilia o escritor a renovar a sua língua, evitando que ela perca seu vigor e se reduza a usos banais e formas estereotipadas. Trazendo à luz os estratos submersos da língua, Poesia Fóssil revela não apenas o percurso histórico que fez com que as palavras que usamos hoje tenham os sentidos que lhes conferimos, mas também descobre associações inusitadas, metáforas esquecidas, belezas soterradas sob o solo do uso habitual.