Este livro é um experimento fragmentário e, por que não, grandioso, a tentativa de identificar o mal na literatura brasileira. (...) E o único meio que parece capaz de incluir a enormidade do mal em si mesmo é a narrativa. Mas a narrativa parece ser movida e libertada pela força do mal: não apenas para incluí-lo, mas para tornar-se sua cúmplice. A literatura não é inocente , diz Georges Batilhe; ela é culpada e deveria reconhecer-se como tal . Apenas quando a literatura reconhece sua conivência com o mal é que ela cumpre sua natureza, que é comunicar o essencial. Esse reconhecimento perpassa as obras escolhidas para análise do presente volume. Ao colocar em evidência o mal na literatura brasileira, até então inexplicavelmente deixado de lado por seus estudiosos, Júlio França e os demais autores deste volume prestam um serviço essencial à crítica literária no Brasil. Cobrindo quase um século da nossa produção, seus textos revelam um lado sombrio do país que os estudos anteriores pouco focaram, como se o mal não existisse por aqui, numa visão desde sempre romântica e idealizada. Ao contrário, como o leitor verá, o mal sempre foi retratado pela literatura; só lhe faltava quem o viesse desnudar. Agora não falta mais.