A veia anarquista que originou 'A política do rebelde' lhe surgiu na infância, conta o filósofo francês Michel Onfray. Sua experiência de humilhações em um colégio interno e, na adolescência, o trabalho insalubre numa fábrica de queijos forjaram-lheum visceral espírito libertário: "A autoridade me é insuportável, a dependência, intolerável, a submissão, impossível", deixa claro no início do livro. Seu texto celebra a busca do prazer como filosofia de combate. Uma filosofia pela plenitude da vida, contrária à armadilha do ascetismo e atenta ao fato de que tudo irá desaparecer. Onfray constrói os argumentos num diálogo permanente com outros pensadores insubmissos: Nietzsche, Proudhon, Thoureau, Bataille, Foucault, Deleuze, Blanquis. Das obras de Primo Levi, Amery e Antelme sobre o horror nazista, o autor resgata uma constatação crua: não existe diferença de natureza entre os campos de concentração e as "catedrais de dor" administradas pelo capitalismo 0 indústrias, empresas, prisões, hospitais psiquiátricos. Em graus diversos, há o mesmo desprezo pelo indivíduo. É em defesa de um individualismo autônomo, solidário, que Onfray elabora sua política hedonista, libertina e libertária. Adepto da retomada dos ideais de maio de 68, ele advoga um "reencantamento do mundo". Para que isso ocorra, crê que é fundamental submeter o econômico ao político, mas também colocar o político a serviço da ética. Sua proposição destaca a cultura crítica, a cólera como dinâmica e o ódio à "moral do sofrimento", que faz do trabalho um valor absoluto e falsamente emancipatório. Um dos pontos tocantes da obra é o capítulo Cartografia infernal da miséria, em que Onfray revela compaixão pelos despossuídos. Ele toma emprestado referências de Leviatã de Thomas Hobbes e da Divina comédia de Dante para traçar um mapa do inferno contemporâneo, dividido em três círculos de fronteiras tênues. O mais periférico é o dos malditos 0 indigentes que nada têm além de si próprios. Em seguida vem o círcu