Em anos recentes, o mundo tem sido palco para a atuação de diversos líderes, governos e movimentos ultraconservadores e autoritários que passaram a desafiar as instituições da democracia. O uso das redes sociais e de ferramentas de desinformação e reprodução de notícias falsas, inclusive mediante aplicativos de inteligência artificial, tem sido um aspecto comum em diferentes contextos nacionais. Do nacional ao transnacional circulam aprendizados e práticas, sempre visando a minar princípios, normas e experiências democráticas e organizações multilaterais. Os casos mais simbólicos que motivaram o início deste projeto do Laboratório de Análise Política Mundial (LABMUNDO) foram a saída do Reino Unido da União Europeia, a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e a crise política no Brasil que culminou com a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro, em 2018. Todavia, exemplos não faltam, tais como os governos de Rodrigo Duterte nas Filipinas, Recep Tayyip Erdogan na Turquia (principalmente em sua fase mais recente) e de Viktor Mihály Orbán na Hungria, bem como o crescimento do Rassemblement National (França), da Alternative für Deutschland (Alemanha), do UK Independence Party (Reino Unido), do Prawo i Sprawiedliwosc (Polônia) e do VOX (Espanha). Mais recentemente, também podem ser citados os trunfos eleitorais do Irmãos da Itália de Giorgia Meloni (Itália), Javier Milei (Argentina) e Geert Wilders (Países Baixos). Nesse sentido, seria adequado falar de uma onda transnacional de governos ultraconservadores e autoritários? Como analisar o impacto dessa onda de políticas antidemocráticas e de ultraconservadorismo nos espaços multilaterais, sobretudo no âmbito das Nações Unidas? Quais seriam as características singulares, no bojo dessa onda, do governo Bolsonaro no Brasil (2019-2022)? Por meio de pesquisas que são fruto de ampla reflexão coletiva conduzida no âmbito do LABMUNDO, esta coletânea apresenta leituras críticas sobre o uso da terminologia “lideranças populistas”, “governos populistas” ou ainda “política externa populista” para se referir a essa onda. Buscando tratar esse fenômeno do ponto de vista teórico e conceitual, as diferentes pesquisas aqui apresentadas consideram o contexto brasileiro de emergência do bolsonarismo e procuram analisar como lideranças e movimentos ultraconservadores e antidemocráticos produziram influências negativas nas agendas da política externa brasileira.