Em novembro de 1516, um comboio de meninos é levado de Víchegard, na Bósnia, para Istambul, como paga de sangue para o Sultão. Aboletados nas albardas penduradas nos cavalos, “são levados para sempre com o intuito de, num mundo estrangeiro, serem circuncidados, transformados em turcos e, esquecendo a sua religião, sua terra e origem, passarem a vida nos pelotões dos janízaros ou numa outra função, mais alta, do Império.” Cinco décadas depois, um desses meninos que atravessara o rio Drina torna-se o poderoso grão vizir Mehkmedpaxá Sokollu. Ele ordena que se construa, às suas expensas, uma ponte sobre o verde e caudaloso rio da cidade em que nasceu. Em 1571, depois de cinco anos de trabalho duro, com vítimas, sacrifícios e injustiças, é concluída a vistosa ponte de pedra que liga o ocidente ao oriente. E a imponente ponte sobre o Drina, que dá nome a este livro, testemunha três séculos e meio da vida cotidiana dos habitantes de Víchegrad. Seus pequenos dramas, suas pequenas alegrias, suas tragédias. Gerações se reúnem, costumes se transformam lentamente, as religiões cristã e muçulmana dialogam e se confrontam, exércitos passam, pessoas são celebradas. Há epidemias, inundações, execuções, conspirações. Sonhos e esperanças vividos se transformam em memórias e tradição, e em um reino mítico. No final do século XIX as mudanças geopolíticas decididas longe dali transformam de maneira definitiva aquele vilarejo esquecido. Lotika, que dirige o hotel, enxerga a frondosa ponte da janela de seu escritório buscando um mundo que já não existe.
Ponte sobre o Drina, livro mais conhecido de Ivo Andric, Prêmio Nobel de Literatura de 1961, ganha tradução direta do sérvio de Aleksandar Jovanovic, que assina o posfácio.