"Por que falar em morte se é primavera?" – coletânea de oito contos – é a estreia na ficção de Leonor Assad, professora titular aposentada da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Essas oito narrativas breves apresentam sempre mulheres-protagonistas, desde a adolescente do conto “O dia em que Clarinha matou seu professor de literatura” até a idosa Virginia, de “Entre ruídos e cheiros”. Porém não se trata de retratar as fases da vida da mulher e sim, mais importante, mostrar como o desejo constitui e é decisivo para cada uma das personagens aqui retratadas, não importa qual seja sua idade. As personagens de Leonor Assad fazem frente aos preconceitos de uma sociedade que historicamente quer silenciar e subjugar as mulheres: mesmo quando a própria personagem tenta se conter, trancando suas palavras, atando-se pés e mãos, corpo e linguagem se rebelam e o verbo jorra insurgente, como em “Palavras de Papel”. Outras, como a protagonista anônima de “A vizinha”, morrem amando sem se submeter ao casamento, ou simplesmente partem adiante, como “De algum lugar”, pois existir é movimento. Elogio à subversão e ao desejo, a estreia de Leonor vem para mostrar que, torcendo o que diz o provocativo título deste livro, até na morte sempre é primavera.