Neste livro precioso, o leitor encontrará uma instigante análise da filosofia moral de Nietzsche. Logo ao abrir as primeiras páginas, notará que o livro não é uma análise a mais da obra do pensador, cuja fortuna crítica não cessa de avolumar no nosso país e pelo mundo a fora, mas uma análise diferente, com outras ambições e um propósito distinto daqueles que comandam em nossos dias os estudos do filósofo. Por um lado, mais do que fazer a exegese dos textos, trata-se de compreender a intenção profunda que governa a filosofia moral de Nietzsche, cujo ápex é a Genealogia da Moral, uma das obras capitais da ética filosófica. Por outro lado, a supor que a moral é a porta de entrada principal da filosofia de Nietzsche, há a ambição de descobrir a chave-mestra ou a gazua capaz de abri-la e franquear o acesso ao conjunto do edifício construído, revelando-lhe a arquitetônica e a pedra angular. A chave vai ser a ideia de decadência, que Evaldo encontra no texto do próprio filósofo e de quem ele a toma de empréstimo, sentindo-se encorajado para propor uma interpretação ao mesmo tempo discrepante do mainstream dos estudos nietzscheanos e solidamente apoiada na declaração textual do filósofo, que dizia ser esta a ideia que dava a unidade de sua obra, sendo a dupla bem/mal senão algo correlato ou derivado. A vantagem não é nada desprezível: não se trata de qualquer exegese ou suposição, mas de uma interpretação com base textual, do punho do autor, que assim se compreende e interpreta sua obra, ainda que um tanto anacronicamente. Outra vantagem, um verdadeiro achado, é que a ideia de decadência, que o filósofo empregava em francês, leva a um dos tópoi clássicos da filosofia, e mesmo a seu âmago – desde Sócrates, passando por Platão e Aristóteles, até Schopenhauer, a saber: as ideias de vida, de sentido da vida, de vida superior, de vida inferior, de renúncia à vida. Nas mãos de Nietzsche será a vez da afirmação da vida e de seus dois pendants: a genealogia da afirmação/decadência