Este livro de Giuseppe Vacca não é mais um lançamento convencional no "mercado de idéias". Como o leitor logo vai perceber, existe aqui uma grande audácia teórica e política: a partir do conceito de "reformismo", Vacca nos convida a reconstruir democraticamente as convicções da esquerda, apontando novos modos de conceber a mudança social e por ela lutar. O marxismo de Vacca aparece inteiramente recolhido com as formas da democracia política, que não é nem nunca foi "burguesa". Historicamente, oque ampliou as fronteiras do liberalismo foi a luta mais do que secular dos "grupos subalternos", para usar a linguagem de Gramsci. Vacca argumenta que o papel destes grupos não é se apoderar do Estado e dar a este uma forma ditatorial qualquer, supostamente progressista. Nada de ditadura do proletariado ou de qualquer forma de ditadura. Classes subalternas e Estado Democrático de Direito devem estar numa relação privada de qualquer relação ambígua ou instrumental. Diria explicitamente, e mais uma vez apoiado em Gramsci e em Vacca, que não se pode mais pensar em "assaltar" o Estado e usar a máquina estatal para transformar a sociedade de modo autoritário e cesarista. Neste sentido, a Revolução de Outubro, que por tanto tempo nos serviu de modelo, deve ser considerada a última revolução do século XIX. E a "revolução democrática" dos nossos dias, quer dizer, os modos de se desenvolver a luta revolucionária depôs do "grande ato metafísico" de Outubro, está rigorosamente por ser inventada. Armênio Guedes.