Ex-cineasta marginal obrigado, pela necessidade, a filmar vídeos promocionais, Zeca tem um único longa-metragem em seu currículo. Intitulado Holisticofrenia. Ele foi rodado sem recorrer à verba oficial ou à renúncia fiscal. "A única renúncia no filme foi à lógica", diz o protagonista. Como Zeca, Reinaldo Moraes chutou o balde vazio da literatice bem-pensante na hora de escrever Pornopopéia, onde fala sobre temas contemporâneos como a obsessão pelo prazer e o individualismo exacerbado. Vivendo na base do improviso, sem dinheiro, Zeca precisa rodar um vídeo institucional sobre embutidos de frango. Sem saber ao certo por onde começar, no entanto, ele acaba entrando numa espiral de sexo, bebidas e drogas. Esse é o ponto de partida do romance de Reinaldo Moraes, que escreveu um livro de excessos para a era dos excessos. O protagonista do livro é um produto do nosso tempo, com seu individualismo atroz e sua busca pelo prazer imediato. Sua ambição não é grande, mas seu apetite (por orgasmos e substâncias ilícitas) beira a voracidade. Essa fome o faz mergulhar numa jornada desregrada, de proporções quase épicas, que o autor narra com um texto fluido, inquieto, sempre em movimento, como o personagem. Na contramão dos (anti-)heróis tradicionais, Zeca não está atrás de redenção ou disposto a se transformar. Na maior parte do tempo, quer (muito) sexo, (muitas) drogas e mais nada. Não enxerga o ontem e o amanhã, só o agora. Esse jeito de ser eventualmente o incomoda (“Porra, às vezes desconfio que não aprendi nada com a vida. No resto das vezes tenho certeza disso.”), mas é algo que ele resolve com mais uma dose. Pela sua atualidade e também pela maneira como o autor domina o texto - de ritmo nervoso, ecoando o que se diz nas ruas, e não nos departamentos de literatura -, Pornopopéia é uma experiência única. E seus efeitos não são passageiros.