Poemas sobre a imigração e as saudades do país de origem. Sobre a negritude e a intensidade da luta contra o racismo. E principalmente, sobre o ódio – sobre o ódio que a diferença pode despertar e, também, sobre o ódio que é necessário para combater a imposição de modos de vida.
Poderíamos estar descrevendo a obra de um poeta jovem, contemporâneo, atento às discussões e a alguns dos problemas mais urgentes do presente. Mas não – estamos falando de poemas escritos há uma centena de anos por Claude McKay (1889–1948). O poeta jamaicano acaba de ganhar sua primeira edição no Brasil: Porque Eu Odeio, livro publicado pela Grafatório Edições. Uma antologia bilíngue que reúne 24 poemas de McKay traduzidos pela primeira vez para o português por Felipe Melhado e Gabriel Daher.
Característica das publicações da Grafatório Edições, a edição de Porque Eu Odeio conta com um projeto gráfico marcante, assinado pelos designers Maikon Nery e Pablo Blanco. A obra foi impressa em tintas prata e bronze sobre papel preto, contando ainda com imagens reproduzidas de monotipias realizadas pela dupla. A tiragem é limitada a 360 exemplares. Além dos poemas de McKay, a edição traz também textos complementares que contextualizam a vida e a obra do escritor, introduzindo-o ao leitor brasileiro.
Nascido em Clarendon Parish, na Jamaica, McKay pode ser um considerado uma espécie de rapper antes do surgimento do rap. Ainda na juventude, o poeta imigrou para os Estados Unidos e, vivendo em Nova Iorque, foi um dos fundadores do movimento conhecido como Renascença do Harlem. No início do século XX, essa corrente artística recuperava o orgulho social e cultural do bairro nova-iorquino, criando laços afetivos e culturais entre os imigrantes negros. Os poemas de McKay tratam da vida noturna e diurna nas quebradas do Harlem, e de seus afetos e desafetos particulares nesse contexto – sem deixar de expressar, como fazem os rappers contemporâneos, os anseios de todo um estrato social.
Neto de escravos, bissex