O livro organizado pela historiadora Michelle Reis de Macedo é um rito de passagem, um marco atemporal dos povos indígenas como protagonistas, uma chuva de flechas que caem para cima a impedir o despencar do céu (Davi Kopenawa). Já no título, temos a designação de “povos indígenas”, o que demonstra a diversidade, a abrangência conceitual, o respeito às diferenças e, ainda, que se trata de uma obra que sabe para o que veio. E as flechas continuam a rasgar as nuvens, em todas as direções, porque o tempo dessa coletânea é tempo do Brasil republicano, das brasas que continuam a queimar nossos e nossas ancestrais, do fogo que continua aceso nas grandes cidades e nas regiões “distantes” habitadas por populações marginalizadas pelo Estado e pelo Capital justamente por não se submeterem à lógica de mercado. Os povos indígenas em retomada que aparecem nessa obra expressam muito bem os que se indignam com essas violências. Falar desses protagonismos nos séculos XX e XXI é, também, reafirmar as existências, resistências, persistências e insistências. Nesse sentido, Michelle Reis de Macedo, com a sensibilidade de quem veio corazonar, como verbo e ação, com saberes sensíveis às súplicas do coração, oferece-nos uma obra coletiva que não bambeia. Grita, canta e voa, como uma flecha ancestral lançada em direção ao futuro que, politicamente e poeticamente, cumpre sua missão e, soberana, “rasga o céu na lua cheia” (Luís Antônio Simas). Confira!!! Anderson da Silva Almeida Universidade Federal de Alagoas