No apartamento do falecido prof. Schuster, a governanta sra. Zittel e a empregada Herta preparam o jantar funerário para a família, rememorando a vida do patrão e lamentando a morte trágica que acabara de acontecer. Enquanto isso, as filhas de Schuster, Anna e Olga, tentam convencer seu tio a assinar uma petição em defesa de um território onde a família possui uma propriedade e a tratar de outros pormenores cotidianos. Entre lembranças e tentativas de compreensão das condições que levaram o professor a cometer suicídio, os personagens apresentam um panorama político da Áustria no fim da década de 1980, traçando um paralelo direto com o episódio de invasão de Hitler na Praça dos Heróis, que marcara não só o âmago da família protagonista, como toda a história ocidental. Escrita em 1988 por encomenda de Claus Peymann, então diretor do Burgtheater de Viena, por ocasião do centenário de abertura do teatro e, coincidentemente, pelos cinquenta anos do Anchluss (anexação da Áustria pela Alemanha nazista), "Praça dos Heróis" é uma reflexão crítica sobre o nacionalismo e o antissemitismo da Áustria moderna, além de uma denúncia da negação de seu passado por parte do povo austríaco. Polêmica por sua assertividade, como diversas outras obras de Bernhard, esta peça de linguagem límpida sensibiliza os leitores não só pela delicadeza da situação que representa, como por sua atualidade. Em Prefácio à edição brasileira, Alexandre Villibor Flory, doutor em literatura alemã pela USP e especialista na obra de Bernhard, aborda o contexto e a relevância da publicação de "Praça dos Heróis", até então inédita no Brasil, bem como disserta sobre a estética da peça e os ganhos desta tradução para o português, de autoria de Christine Röhrig. A edição da Temporal ainda conta com fotografias e ficha técnica da polêmica montagem de estreia de 1988 no Burgtheater e da montagem brasileira, dirigida por Luciano Alabarse em 2005.