PRECIOSAS COISAS BANAIS, AS

Em cada conta, ela conta mil contos. Em cada conta, ela afegã, beija, pinta e borda. Em cada conta, desenha bicho, flor, fruta, crianças, casa e comida. Com cada conta, ela nos transporta para um mundo mais generoso, terno, sem sobressaltos. Neste lugar, estaremos sempre a salvo por conta (contos?). Não importa se bordando, cozinhando ou escrevendo, a feiticeira possui o dom de transformar o ordinário em extraordinário. Mas não se engane: ela borda e escrever como desculpa para nos contar mais um conto. Para nós, pouco importa o tema, pois sempre estaremos como crianças, de olhos atentos, esperando o momento do salto mortal do trapezista no ar. Estes contos, fruto de sua generosidade, ficam marcados para sempre nos nossos pulsos como pulseiras, nos nossos pescoços como colares, nas nossas olheiras como brincos e nos nossos dedos como anéis. O passatempo predileto de suas mãos é escrever contas e bordar contos, mudando discretamente.