Impressiona na obra de Anatol Rosenfeld a atualidade persistente de seus argumentos e de seu pensamento, quase quarenta anos após sua morte. Uma explicação possível para isso encontra-se, sem dúvida, na abrangência de seu raciocínio para muito além da especificidade dos assuntos que focaliza, o que, diga-se, é coisa nada trivial. Nunca o arguto crítico deixou escapar, em suas análises, as perspectivas históricas, políticas e culturais dos fenômenos sob sua mira. Preconceito, Racismo e Política reúne os ensaios e artigos do período em que a política internacional foi o principal foco de sua contribuição para a nossa imprensa. Organizado por Nanci Fernandes para a coleção Debates, na sequência do projeto de publicação dos textos do autor que a editora Perspectiva vem desenvolvendo, deparamos aqui, mais uma vez, com a agudeza, a pertinência e a objetividade deste pensador. Rosenfeld, através dos temas abordados, delineia um panorama tão inquietante quanto atual do mundo e da sociedade em que decorreu a sua vida e nos quais vivemos, pondo em relevo as responsabilidades de Estado e dos indivíduos na trágica, quando não grotesca, inconsequência de seus ideários e de seus atos, em todos os espectros de suas ressonâncias, sobretudo nas de natureza social e cultural, que se propagam por mídias cada vez mais eletrônicas, na esteira dos fatos e acontecimentos. Não será exagero dizer que Anatol Rosenfeld, como pensador, pertence à linhagem que a escola alemã e os espíritos de Benjamin, Adorno, Horkheimer e Arendt deram origem. - J.G. e S.K.